Pense em um dia com gosto de jaca
Pois é. Sabe quando a gente sente algo novo e diferente que não consegue definir? Das duas, uma: ou não sabemos explicar mesmo aquele sentimento ou não sabemos o que de fato estamos sentindo. Nem sempre os dicionários nos salvam, né? Às vezes, são eles os primeiros a instigarem as maiores dúvidas. Ao traduzir e reescrever uma famosa canção dos Beatles, Raul Seixas começou com a frase: "Pense em um dia com gosto de jaca". Seu produtor, logo de cara, pediu que mudasse o trecho, achando-o sem sentido, esquisito. Raul retrucou, defendendo sua aura criativa: "Então você me explica por que é que estou com gosto de cabo de guarda-chuva na boca." No fim, a música ganhou um novo início, tão sem sentido quanto o primeiro. Nem tão original, mas igualmente misterioso. A gramática sempre foi um organismo vivo, uma evolução estranha do que as ruas falam. É, entre outras definições, um reflexo do que elas também deixam de falar (ou do que elas são incapazes de definir). Distinguir